Por Inês Lopes
Não salvei o mundo… mas foi por pouco! A verdade é que a SDDH/AAC acabou
por ser o meu melhor mundo, e foi ela que fez de Coimbra para mim aquela
Coimbra de que todos sempre falam.
Pequenina, mas cheia de vontade, tal como eu, a ‘secção dos Direitos Humanos’
(como lhe chamavam carinhosamente os preguiçosos da Cultura) tinha todo o
potencial para ser uma escola de concretização de sonhos nobres, que tanto
muitos de nós procuram quando chegam à faculdade.
Suprimida a ingénua falta de organização, inovação e diversidade, a deslocada
sala do quinto piso rapidamente se tornou a minha segunda casa, e lá de cima,
todas as quintas-feiras à noite, via o novo jardim do edifício da AAC encher.
Quando todos resolvíamos ir para casa, não era só o cartão de sócia e a descida
das escadas que me distinguia dos de copo na mão junto dos seguranças, mas
também um sentimento de importância altamente egoísta, de quem faz o que
gosta da maneira que gosta, ainda para mais de borla. Um privilégio.
Preparem-se aqueles que vêm entusiastas, que muito mato há para desbravar.
Junto das ONGs citadinas nem sempre o estereótipo do estudante ajuda, assim
como na Queima nem sempre o Panda chega para dar sentido à nossa
existência… mas entre pares tão diferentes de comum intenção partilhada, nasce
com sorte uma família, daquelas que fazem das nossas maiores desilusões
meras piadas futuras e dos fracassos altares para ‘fazer a diferença’.
De coração aberto à academia, os utópicos há muito deixaram de ser as inúteis
boas pessoas… e no grupo querem-se humanistas inteligentes, informados,
eficazes e humildes, que aos poucos, como sempre na História, alcançam
devagar, mas bem.
Pequena nas promessas de poder preto e branco e grande no respeito pelos que
para si e por si continuam a trabalhar, foi na Secção que desenvolvi método,
estratégia e resiliência; onde senti boa-vontade, sacrifício e genuinidade; e de
onde, cansada, cheguei a casa de coração inchado.
Direitos ou esquerdos, porque só com humor se leva aos ombros as maiores
atrocidades do vizinho, os Humanos passaram a ser a paisagem que Proust
falava e os meus olhos, nunca mais os mesmos, o éter alquimista que sempre
procurei nesta cidade.
Espero que a Defesa nunca lhe seja retirada, para que aqueles que queiram vir
salvar o mundo tenham sempre um lugar onde o tentar… e falhar, mas por pouco!
Saudações humanistas e saudosistas de quem foi suprema de brincadeira e
companheira de verdade dos mais inteiros estudantes de Coimbra.
Inês Marques Lopes,
(CCI para quem gosta de rebuçados)